A Grande Aposta e os Sinais de Alerta
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, sediada em Belém (PA), foi anunciada como o ápice da retomada do protagonismo ambiental brasileiro sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, uma série de contradições e desafios internos acendem um alerta, levantando questionamentos sobre a capacidade do país de liderar pelo exemplo e ameaçando transformar a oportunidade em um revés para a influência internacional do presidente.
Analistas e observadores apontam que um eventual fracasso em entregar resultados concretos e em alinhar o discurso com a prática pode selar um declínio na credibilidade de Lula como uma liderança global no combate à crise climática, uma imagem que ele se esforçou para reconstruir desde o início de seu terceiro mandato.
Contradições na Política Energética: O Dilema do Petróleo
O principal ponto de tensão reside na política energética do governo. Enquanto o Brasil se posiciona para liderar discussões sobre transição para uma economia verde, a forte pressão pela exploração de petróleo na Foz do Amazonas pela Petrobras gera ruídos e críticas de ambientalistas e da comunidade internacional. Essa dualidade é vista como uma contradição gritante.
A insistência em expandir a fronteira de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que se defende a preservação da Amazônia, coloca a diplomacia brasileira em uma posição delicada. Para muitos, não é possível ser um campeão do clima e, simultaneamente, um incentivador da exploração de petróleo em áreas ecologicamente sensíveis.
Desafios Internos e a Batalha contra o Desmatamento
Apesar da queda significativa nos índices de desmatamento na Amazônia em 2023, a luta ambiental enfrenta obstáculos consideráveis. A pressão da bancada ruralista no Congresso Nacional, os cortes orçamentários em órgãos de fiscalização como o IBAMA e o ICMBio, e o avanço do desmatamento em outros biomas, como o Cerrado, mostram que a batalha está longe de ser vencida.
A percepção internacional depende de resultados consistentes e duradouros. A incapacidade de controlar a destruição em outros ecossistemas importantes e as dificuldades políticas internas para aprovar uma agenda ambiental mais robusta enfraquecem a posição de liderança que o Brasil almeja na COP 30.
O que Definirá o Sucesso ou o Fracasso da COP 30?
O êxito da conferência não será medido apenas pela organização do evento, mas principalmente pela capacidade do Brasil de articular acordos ambiciosos. Um fracasso seria caracterizado pela falta de avanços significativos em temas cruciais, como:
- Financiamento Climático: A falta de compromissos concretos dos países ricos para financiar a transição energética e a adaptação em nações em desenvolvimento.
- Mercado de Carbono: A incapacidade de regulamentar de forma eficaz o Artigo 6 do Acordo de Paris, criando um mercado global funcional.
- Metas mais Ambiciosas: A ausência de novas e mais fortes Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) por parte dos maiores emissores globais.
- Coerência Nacional: A percepção de que o discurso do anfitrião não se reflete em suas próprias políticas internas.
Um resultado morno ou sem avanços práticos na COP 30 seria interpretado não apenas como uma falha da conferência, mas como uma falha direta da liderança brasileira. Para o governo Lula, o risco é alto, e o resultado do evento em Belém pode tanto consolidar seu legado ambiental quanto selar um doloroso declínio de sua influência no cenário mundial.
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